Fotografia de Caio César

Caio César

Professor de Design de Interação na PUC-MG.

Introdução ao tema UX, possibilidades de atuação e dicas pra começar.Ouvir episódio
01

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O episódio de estreia do Movimento UX com o Caio César foi uma verdadeira aula sobre Experiência do Usuário. Como vocês vão ver, ele criou a melhor experiência possível para que o 1º episódio do Movimento UX se tornasse realidade.

Pra começar ele me convidou pra conhecer o Bunker da Rede.Bz e me ofereceu toda a infraestrutura do espaço pra gravação do podcast. O apoio foi desde emocional, me tranquilizou quando o frio na barriga bateu ao ligar o microfone pra gravar esse 1º episódio, passando por dicas de produção pros podcasts e com uma baita lista de dicas pra criar repertório que você confere logo abaixo.

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O 2º episódio será com o Rodrigo Medeiros!

Até o EP 02. 🙂


[Música]

Izabela Olá! Bem vindo ao Movimento UX. Hoje é o primeiro episódio desse projeto que tem a proposta de conversar com pessoas referências em Experiência do Usuário sobre assuntos importantes para quem quer começar na área.

Resolvi fazer esse projeto porque eu vivo essa realidade, estou perdida sobre como começar e acho que outras pessoas também podem se sentir assim. Percebi que existem diversas fontes de informação, principalmente online, mas nenhuma para iniciantes e em português. Acredito que conversar sobre um problema é uma das melhores formas para encontrar caminhos que possam solucionar, daí a ideia e a motivação.

A cada 15 dias eu vou bater um papo com alguém que tem um ponto de vista interessante sobre Experiência do Usuário para que a gente possa utilizar a visão dele ou dela para conhecer um pouco mais sobre a área.

Eu sou Izabela de Fátima e aqui comigo está o Caio César.


Izabela Estou aqui com Caio César, que é professor e coordenador da Pós-Graduação de Comunicação Digital no IEC PUC Minas. Ele também é doutor e mestre em Administração, especialista em Comércio Eletrônico, publicitário e também coordenou a Pós-Graduação de Design de Interação no IEC PUC Minas entre 2007 e 2011.

Muito obrigada pela presença aqui no Movimento UX, Caio.

Caio Opa, eu que agradeço. É um prazer participar, estamos aí. Essas apresentações me deixam até encabulado.

Izabela Mas é isso mesmo ou esqueci de alguma coisa?

Caio Não, é isso mesmo. O tempo passa e a gente nem lembra tanta coisa que a gente já fez, mas é isso aí.

Izabela Então, para começar, o que é Experiência do Usuário?

Caio Olha só, tem um monte de conceito. Tem a resposta chata de aula e a resposta mais direta da nossa vivência do dia a dia. A resposta chata de aula é que a experiência é tudo aquilo que a gente proporciona para um usuário enquanto ele está vivendo o consumo, aí o consumo expandido que é desde até o momento da escolha que é o momento anterior a escolha e o momento posterior ao uso do produto ou do consumo, então a experiência é tudo isso que envolve. Agora, a resposta mais divertida é mais fácil da gente entender. A experiência é a nossa vivência, a vida é repleta de experiências, o tempo todo a gente está vivenciando coisas e de uns tempos para cá, eu gosto de fazer paralelo com o Marketing, porque eu vejo uma ligação íntima de experiência com o Marketing.

A gente tem uma mudança que vem acontecendo desde os anos de 1970, quando os produtos começam a ficar fisicamente muito parecidos. E aí as empresas enxergam, começam a enxergar a necessidade de se ter um diferencial de seu concorrente, porque uma calça é muito parecida com outra calça, o Jeans pode ser comprado pelo mesmo fabricante, os telefones hoje, os aparelhos de telefones celulares, as telas são as mesmas é o mesmo fabricante que faz as telas e os processadores, a memória. Então o que você tem para diferenciar o seu produto de um outro, as características físicas não dão mais conta, você tem que ter outra coisa. Então tem uma quantidade de autores que vai levar pro lado do serviço, atendimento, pós-venda, outros vão falar na questão da construção de uma marca, uma marca sólida, uma associação com o status, exclusividade, então a experiência é tudo isso misturado, é tudo que ajuda a convencer o usuário a usar o seu produto ou serviço, deixa esse usuário satisfeito usando esse produto ou serviço e ao final do processo ele vira um recomendador do seu produto ou do serviço.

Izabela Qual que é a diferença entre Experiência do Usuário e Design de Interação?

Caio As pessoas que curtem Design de Interação e me conhecem há mais tempo podem até ficar um pouco ressabiados dessa resposta, mas Experiência do Usuário é mais amplo do que o Design de Interação, o Design de Interação que é muitas vezes confundida como User Experience, ele diz respeito às coisas digitais interativas, a experiência. É por isso que eu fiz esse paralelo com o Marketing e a relação com o Marketing, está mais ligado a esse conceito novo que está aparecendo Omnichannel da experiência única e qualquer que seja o canal que você usa para se relacionar com o seu consumidor ou com seu usuário, que pode ser o balcão fixo físico ou tele-atendimento do telefone, pode ser o Twitter, pode o produto ou serviço, efetivamente digital ou não, então experiência envolve mais! O Design de Interação ele cuida de como as coisas interativas vão acontecer, como que a gente lida tem um peso grande, as coisas interativas tem um peso enorme, essa confusão é bem esperada, como é esperada também a confusão entre Arquitetura de Informação e Design de Interação, mas que são áreas distintas, elas se complementam. Então às vezes os procedimentos DI e você usa Arquitetura de Informação. Mas eu entendo a User Experience como algo mais amplo, porque ele pode lidar com questões interativas como a gente está acostumado em ver em Design de Interação, questões de interface, sequenciamento de tela, hierarquia da informação, etc.

Mas está também estrategicamente o peso da questão no Design Thinking que é muito importante, a gente adotar essa lógica de Design Centrado no Usuário, para as coisas gerais da empresa. Outro dia estava ajudando um aluno que ele tem uma Clínica de Odontologia e ele tava fazendo a disciplina de Design de Experiência e ele tava querendo justamente entender a relação daquilo com o negócio dele e é muito claro você ver que a Experiência de alguém que vai consumir o serviço de uma Clínica de Odontologia, fazer uma ligação para marcar consulta ou desmarcar, o processo de ser lembrado da consulta do próximo dia, a remarcação, o retorno, a relação com a Clínica de Radiologia, a relação com um protético, isso tudo o Usuário está ali fazendo contato com todos esses prestadores de serviços, que estão ligados a Clínica e os diferentes profissionais da Clínica, eventualmente, o cara que cuida na parte de Ortodontia, outro que cuida de Cirurgia, isso tudo tem que ser mais ou menos trabalhado, muito bem trabalhado, para que a Experiência desse Usuário seja bacana. Então passa por Design de Interação aí.

E se essa Clínica tem um Web App ou um site dela é bacana, eu não preciso instalar nada, porque o uso de uma Clínica de Odontologia não é uma coisa tão frequente né, mas o site é bacana, eu posso fazer marcação, ele me dá um lembrete, me manda um e-mail, cria um evento no meu calendário, esse tipo de coisa pode ser muito bacana para uma experiência geral do Usuário boa e a coisa acontecer tranquilamente, previsão de atraso. Imagine que você está na sala de espera, até o Wi-Fi na sala de espera para não ter que ficar lendo revista Caras de dois anos atrás (risos Izabela), esse tipo de coisa é Experiência, é um pouco mais do que a interação. Porque a Interação está lá liga ao hardware ou ao software, não obrigatoriamente mas a gente está enxergando mais dessa maneira.

Izabela Qual que é a rotina de trabalho de um profissional em Experiência de Usuário?

Caio Ela deve ser, eu gosto muito de usar os exemplos do Alan Cooper, o Bill Verplank que é um cara do Design de Interação, é um cara que deu os conceitos iniciais pra gente entender que hoje é conhecido como Design de Interação, esses caras, eles recomendam muito que o profissional que cuida de experiência, que cuida dessa resolução desse tipo de problema, que ele seja um cara muito observador, então ele é um cara que deve perguntar bastante, observar, pesquisar, prestar atenção em tudo que influencia o ambiente essa tríade de usuário, artefatos em ambiente aquilo ali está interferindo na interação, interferindo na experiência, é um cara que vai à campo, a rotina de trabalho dele para cada projeto, deve sempre começar por uma visita à Campo e é por isso que aquele vídeo da IDEO, Deep Dive ele é tão emblemático, até na publicidade.

Eu tenho um colega que ele conta quando a gente estudava ele fazia estágio numa Agência e aí ele achava muito esquisito que o Diretor de Arte da agência, antes de fazer um layout ele ia dar uma volta, aí ele conta um caso que atendeu uma loja de sapatos femininos e era uma coleção de outono inverno, aí ele ia fazer um anúncio de revista, antes de fazer um anúncio de revista o cara foi passear no Parque Municipal e voltou de lá com um monte de folhas secas para ficar escaneando as folhas secas, antes de pensar em layout, antes de tudo, porque ele queria olhar as cores do Outono, tirou foto das cores que as pessoas estavam usando na rua e tal. Esse é um comportamento que é muito comum de você ver em um cara que cuida de experiência, chega uma demanda de um projeto, antes dele abrir Axure, antes de ele pensar, ele vai à campo, ele vai olhar as pessoas, ele vai perguntar, ele vai com gravadorzinho ou uma câmera, ele tira foto, entrevista o usuário e descobre coisas. Ele passa pelo ciclo, depois de descobrir algumas coisas, ter as ideias, elaborar os protótipos, fazer a validação e aí botar em produção.

Izabela Qual que é nome do cargo de quem trabalha com a Experiência do Usuário?

Caio Está tão banalizado o termo User Experience Designer (UXD), mas eu acho que seria esse mesmo o cargo e só que é muito difícil você ver e porque que está banalizado, porque às vezes o cara que faz interfaces ele se denomina User Experience Designer, na verdade ele faz interface não é diminuindo o ofício do cara que faz a interface, mas Direção de Arte é diferente de construção de experiência, está envolvido, é o caminho a ter esperado do cara que cuida de interface, ele vir a cuidar disso. Mas não é o que acontece mais comumente. Por que? É a mesma coisa de você chegar para um Diretor de Arte Web ou Digital, pensar no cara que faz tela e mostrar uns textos do Jacob Nielsen para esse cara. Certamente esse cara vai torcer o nariz, esse cara vai ficar um pouco de preguiça, porque o Jacob Nielsen, está do outro lado do espectro, é um cara muito pragmático, tem umas regras às vezes não muito aceitas e isso pode gerar algum tipo de problema, e por isso o caminho não é o mais frequente, mas até esperado. Mas o mais esperado é o cara que faz o planejamento.

Na época em que eu trabalhava na produção Web em agência, isso era o Gestor de Projetos, é o cara comercial que fechou negócio e a partir do fechamento do negócio, entra o Gestor de Projetos que vai junto com cara de Planejamento no primeiro momento e depois junto com a equipe de Direção de Arte, no segundo momento, depois junto com a equipe de Produção no terceiro momento, ele que vai tocar o projeto, eu vejo um caminho muito natural desse cara do Gestor de Projetos, assumir papel o papel Designer de Experiência, porque ele está o tempo todo, então se no caso o profissional de Planejamento, também está o tempo todo junto que é difícil você ver, às vezes o cara de planejamento está ali no momento inicial, mas quando a coisa entra pra dentro daquela salinha da criação o cara do planejamento é fechado do lado de fora, "você não vem aqui porque seu negócio é planilhas, planilha aqui não.

Então é essa preguiça que é complicado, mas o cara que é o Gestor de Projetos ele está lá o tempo todo, isso é uma coisa que aconteceu comigo, eu era um Gestor de Projetos, é um caminho mais natural, mas você tem casos que muitos Diretores de Arte que vão ser user Experience Designer e também tem outros casos que são os profissionais do Planejamento. A minha vivência é que o cara do planejamento às vezes ganha mais, então ele fica lá confortável na dele e não vai mexer com UX não, vai caçar mais trabalho não, mas é um caminho, então eu vejo essas duas áreas é mais difícil ainda você ver um cara que vem de Desenvolvimento trabalhar com Experiência, mas você acaba vendo, por exemplo o Luke Wroblewski, ele é um cara que vem dessa onda, tem uns camaradas assim, mas você vê que as formações são distintas o Alan Cooper é psicólogo, então é um cara que está mais preocupado com as pessoas, é difícil a gente falar isso para ficar gravado, mas normalmente um cara que escreve códigos ele tem uma preocupação menor com as pessoas é o mais comum a gente ver isso.

Izabela Se a gente pudesse ter uma nomenclatura em português seria Designer de Experiência?

Caio Seria Designer de Experiência. É uma pena que as estruturas das empresas ainda não comportam em esse profissional para cuidar só disso, por isso ele acaba sendo o Diretor de Criação ou o cara do Planejamento ou o camarada que faz o gerenciamento do projeto, mas se tivesse um cara para cuidar de experiência, especialmente nesse momento que a gente vê a necessidade de voltar. A gente teve no mercado de Publicidade que é o mercado onde a maioria de nós que trabalhamos com Experiência vimos. Houve um momento de separação que tinha as agências digitais e às vezes e as agências offline e agora está tendo o momento de volta, que essa coisa de Comunicação Integrada agência 360. Isso se mostra mais importante a gente ter esse cara, mas não é toda agência ou toda empresa que tem uma estrutura de R/GA, a R/GA tem Designer de Experiência, mas seria muito bacana se a gente tivesse isso, tivesse um cara que ele cuidasse da experiência, que é o cara que está focado nisso. Porque às vezes o cara do Planejamento ele está preocupado com cumprimento dos prazos "Olha cara vamos manter o foco aqui essa ideia, esse conceito". Aí ele fica mais preso nisso. O Gestor do Projeto está ali tomando tiro de tudo qualquer lugar, ele toma tiro do cliente, da equipe, da direção da agência. Então ter um cara que cuida da experiência que está sempre lembrando todo mundo "Olha aquele camarada que está ali na parede a Personinha, vamos lembrar dela" então acho que esse cara tem que existir como título e como uma pessoa pra isso.

Izabela Pensando no mercado, quais são as possibilidades de atuação em Experiência do Usuário?

Caio Essa brincadeira do Design Thinking e do Service Design que está ainda bem tomando aí o mundo empresarial, isso abre muitas portas, porque o cara que cuida de experiência ele é um cara que vai resolver problemas às vezes internos da organização no que diz respeito a produção daquele serviço ou produto, ele pode ajudar na integração disso como uma comunicação eficaz e ele pode ajudar a quem faz a comunicação. É uma pena como eu falei antes o título não seja muito reconhecido, mas esse cara, esse profissional que ele sabe da necessidade de você pensar no usuário, que se o usuário não quiser usar aquilo que a empresa está fazendo, a empresa não vai ter sucesso. Que sabe tirar isso de dentro dos livros de Marketing e de Design de Experiência efetivamente implementar. Esse cara é muito demandado, tanto dentro da organização, quanto dentro de uma agência ou um prestador de serviço. Eu vejo o mercado futuro promissor, porque como eu falei está ficando tudo muito parecido, muito semelhante, isso não é ruim. Porque a gente chegou no nível de competição que os produtos estão bons, chegaram no nível de excelência bacana. Então agora a diferenciação é aquele que deixa o usuário mais satisfeito e a satisfação não é uma telinha mas bonita não é só direção de arte a satisfação não é só um tapete legal quando você entra dentro de um ambiente que você vai consumir aquele serviço ou produto é uma coisa mais ampla. E aí a experiência entra.

Izabela Pensando aqui em umas possibilidades no mercado de Belo Horizonte, seriam por exemplo: poderia ser Veículo, Portal de Notícia, Escritório de Design, Agência de Publicidade, Empresas de Tecnologia, esses tipos de locais eles estão demandando essa necessidade esse olhar desse tipo de profissional? Você tem visto vagas aqui em Belo Horizonte que estão circulando?

Caio O nome não é buscado mas o cara que cuida do processo às vezes ele aparece com outros nomes, mas eu não vejo isso ruim agora, mas no futuro vai começar aparecer, que é um Supermercado pensando em contratar alguém para cuidar da Experiência e a gente tem exemplos de Supermercados. Supermercados que a experiência horrível e Supermercados a esperança é ótimo. Então a partir do momento que esse Supermercado que tem experiência ótima começar a detonar os outros, a necessidade vai começar aparecer, porque um supermercado não é só melhor que o outro por causa do mix de produtos, não é só o preço é tudo embora a comunicação lado Varejista fale isso, a gente sabe que o preço não é tudo! Se o preço fosse tudo, você não teria Rolls Royce, você não teria Porsche, não teria Mercedes. Preço não é tudo você tem outras coisas! Então quando a gente começa a lembrar que existem essas outras coisas esse profissional começa a se fazer necessário.

Ainda não está doendo tanto no bolso porque que a coisa da economia "a eu tolero esse varejista, ruim porque aqui eu consigo comprar o sabão em pó mais barato", mas vai chegar um ponto em que o sabão em pó vai está mais ou menos o mesmo preço, que as experiências não custam tão mais caro. A gente só começa a ver isso no serviço de publicidade, que inserir procedimentos Design Centrado no Usuário, não deixam o seu projeto tão mais caro do que os outros, vale a pena! Por causa do retrabalho, etc. E a mesma coisa quando a gente está pensando em laboratório, você vai fazer um exame de sangue, você tem experiência A e a experiência B. Na hora que o paciente, usuário e consumidor vai consumir esse serviço é lógico que você vai privilegiar o da boa experiência. Então quem não proporcionou boa experiência vai ter que se virar. Eu acho que isso parece muito na figura do consultor de Design Service ou de Design Thinking. Então quem está atuando nisso daí já está vendo um aumento da demanda.

Izabela E você se lembra de algum caso em que é Experiência do Usuário tenha feita toda diferença no sucesso do produto e dos negócios?

Caio É o caso mais emblemático que vai vem de Bate-pronto é o caso da Apple, eu estava falando isso outro dia com o os alunos, porque quando a gente fala de inovação, as pessoas associam muito a Apple a inovação e esquecem muito por exemplo da Microsoft e não necessariamente se a gente for olhar lá, o que é inovação a Apple não traz coisas novas do jeito mais comumente entende como inovação. A Microsoft tem uma quantidade de registro de patentes muito maior que é um dos indicadores de inovação, que você ter patentes, você está pesquisando soluções novas e tal. Mas uma única coisa que a Apple tem, faz uma diferença brutal que é que você tinha smartphone antes de 2007 existia smartphone. Eu tinha um Palm Treo em 2007, e era um telefone que podia instalar software nele, a gente não chamava de aplicativo ainda, só que o processo de instalar software era, não existia um lugar centralizado. Eu tenho que ir no site do camarada que fez o software e lá e eventualmente comprar.

Baixa o software, liga o cabo no computador, sincroniza... Era um processo que não era trivial, o que ela fez foi a mudança de centralizar tudo numa lojinha de aplicativos e etc. Por mais que o telefone não tenha sido inovador, você já tinha celular com tela de toque, você já tinha o telefone sem teclado, já tinha um monte de coisa naquela época quando eles lançaram. Mas o iPhone em si, ele não era um produto inovador, o que é inovador era a App Store. Quando eles fazem aquilo ali a experiência de uso de um telefone que agora é um computador de mão e que você instala coisas e que você usa e etc, vira outra. Então BlackBerry vai para o quiabo a própria Palm, a Nokia que tinha telefone com tela de toque com sistema Symbian, então você tem a experiência sendo lisa e tranquila isso altera sensivelmente uso da coisa. Mais recentemente um exemplo da Apple, eu vou falar da Microsoft, eu fui um usuário de Linux por 10 anos, de 2006 até agora no final de 2015, eu era um usuário Linux e fiquei 10 anos batendo cabeça com Linux, até o momento que eu me vi obrigado a instalar o Windows 10 no desktop e a experiência foi tão boa foi tão diferente do que eu conhecia de Microsoft antes com Windows Vista. Que tinha sido o último Windows que eu tinha usado, que eu falei "espera aí porque que eu estou batendo a cabeça aqui, tendo que instalar uma rotina para fazer meu laptop desligar quando eu fecho tampa. Porque que eu tenho que ir ficar entrando no terminal para resolver coisas". O Windows 10 parece que é legal, eu deixei o Linux no computador pessoal para usar o Windows, porque a experiência está boa, a experiência do Windows 10 ela não é ruim, ela é uma boa experiência. Então faz toda diferença sim! Você conquista o usuário "eu sou um cara que durante 10 anos eu falei mal da Microsoft, do sistema operacional da Microsoft" hoje eu sou um cara que cogita comprar um Windows Phone porque de tão boa que está sendo a experiência com Windows 10. Mas aí falam "pô Caio ninguém tem Windows Phone", eu estou acostumado ter coisas que ninguém tem, usava Linux, então se eu usar o Windows Phone não vai ser problema. Mas porque a experiência é legal e ainda por cima ele é muito gostoso de usar. Então faz a diferença e são exemplos bacanas.

Tem um exemplo que vai além das coisas interativas que é o exemplo daquela que agora é da Apple, mas aquele fone Beats by Dre, que ali não é nem pelo fone que a gente sabe que a qualidade do fone, do áudio não é superior para justificar o preço deles, mas eles têm uma coisa de atendimento ao consumidor por meio do Twitter, que é assim absurdo é muito bacana! Que você se sente realmente bem de ter comprado aquilo. Tem um caso de um camarada chamado Scott Stratten tem que ele conta isso te como que foi a troca de um fone que ele deu para o filho dele, desse Beats que deu defeito e foi procurar na caixa o telefone para atendimento e não tinha telefone, tinha um perfil do Twitter, aí ele já fica um pouco com pré-conceito daquilo mas ele vai resolvendo a coisa em meia hora já está tudo resolvido, já tem um novo fone sendo enviado pra ele. Então, isso é experiência! Isso faz a coisa que é mais do que a exclusividade mais do que o design físico do produto é a experiência de uso, que se é boa, você não troca!

Izabela Eu tenho a impressão de que o assunto UX tem ganhado cada vez mais destaque nas publicações do mercado de comunicação, de Design e tecnologia. Teve um fato ou um ponto de virada no mercado para que a Experiência do Usuário tem ganhado mais importância ou foi um processo mesmo?

Caio Olha é uma coisa gradativa e que vai virando uma bola de neve, é uma coisa que começou pequena vai crescendo. Para você ter uma ideia eu comecei a ler sobre isso que ver a virar User Experience Design, comecei a ler sobre usabilidade numa pós-graduação que eu fiz em em 2000 lá no ano 2000 estava fazendo uma pós-graduação (Especialização em Comércio Eletrônico) e numa disciplina lá o camarada falou sobre o Jacob Nielsen e que tinha um livro que a gente tinha que ler e que se chamava "Projetando Websites" e aí eu fui ler o livro e esse negócio aqui "era fabuloso, que bacana, aqui está a todos os direcionamentos, Olha que legal!". Então eu fui falar com um colega que em 2001, eu tive a oportunidade de estar nos Estados Unidos visitando esse meu colega que tava lá fazendo mestrado, que é o Daniel Alenquer que juntos a gente construiu a Pós-Graduação Design de Interação alguns anos depois. Mas eu estava lá eu e Daniel Alenquer e o colega chamado do Henrique Penha.

Que na época trabalhava na Skype, ainda não eram Skype da Microsoft, era só Skype. Estávamos lá na casa do Henrique Penha em Boston, eu estava ajudando ele a carregar um sofá, aí eu falei "a gente vocês são Diretores de Arte, Designer de Interface, eu estou lendo um cara aqui que eu acho muito bacana Jacob Nielsen. Vocês já ouviram falar?" os dois pararam o que estavam fazendo olharam pra mim o Henrique Penha a gente não tinha tanta intimidade ele foi fazer outra coisa o Daniel veio e falou "olha você tem que pegar leve com esse cara, que esse cara é um cara que fica podando as nossas ideias de Design, esse cara vai contra a evolução do Design Visual. Eu falei "pô é legal esse feedback" e aí Voltei pro Brasil e quando o Daniel voltou para o Brasil já mestre, ele falou "o Caio li mais sobre o Jacob Nielsen, realmente meu orientador me aplicou no Jacob Nielsen e olha não é aquele jeito mesmo não, o cara é bacana! O cara tem os métodos legais esse negócio de Usabilidade é bacana. Isso mostra uma coisinha que começou acontecer ali, a galera de software a galera que vende Interface de Software, começa a influenciar a quem faz tela, começa a influenciar a quem faz digital e a coisa começa a ganhar um pouco de notoriedade o próprio lançamento do iPod e naqueles iMacs.

Eu acho que tem muito a ver com isso, tem um livro que se chama "Design Interactions" que é do Bill Moggridge, coitado já morreu, mas ele deixou esse livro que é uma coletânea de entrevistas com pessoas que fizeram produtos emblemáticos. Então tem o Johnny Ive se eu não me engano ele fala alguma coisa e tem a galera que faz, tem a galera da IDEO falando de todos os produtos que ele fazem, eles escolhem alguns produtos, tem a historinha do primeiro iPod e aquilo ali começa a brotar nas cabeças de quem lia esse tipo de publicação, o que que era pensar em uma experiência legal, uma experiência diferente, um jeito diferente e isso quando vem o iPhone quando as coisas começam aparecer você tem uma difusão maior disso, agora você vê.

Gente que vem de outras frentes, tipo, o Jeffrey Zeldman na época que ele encabeçava aquela frente por Web Standards, quando você tinha briga de Microsoft com Internet Explorer e o resto do mundo a galera usando o Firefox, etc. Buscando um navegador que lesse o código direitinho essa preocupação com o código que funciona em tudo, isso tem ligação! Depois da onda do Design Responsivo,que é uma coisa que vem dessa mistura de áreas, então é tudo vem auxiliando esse negócio aparecer e o Alan Cooper o próprio Alan Cooper é um cara que vem da psicologia para o design, falando da importância de a gente pensar nas pessoas, o livro dele lá "The Inmates Are Running the Asylum" é um livro bacana que ele mostra Persona, ele fala a importância da gente se preocupar com usuário e entender o que é o usuário e fazer pensando no usuário, então é um monte de iniciativas que vem um monte de lado que no final das contas ajuda a disseminar uma ideia que é de " Poxa! As coisas têm que ser boas!" e se você voltar é aquilo que eu falei anteriormente tem uma relação íntima com marketing, porque a gente associa marketing a venda, esforço de venda e a promoção, mas marketing é antes disso, é identificar uma demanda de mercado e verificar se eu consigo atender aquela demanda e fazer aquilo. Então a demanda de mercado, o que é, é o problema que o usuário tem, é a necessidade do usuário e o que eu vou fazer agora é construir uma coisa que resolve o problema do usuário. Porque se eu resolvo o problema do usuário, usuário vai comprar o meu produto, então vou ter dinheiro porque eu quero é dinheiro e o usuário quer o problema dele resolvido.

Então para quem tem aquele preconceito com marketing, o marketing está lá pensando no cifrãozinho, mas para chegar no cifrãozinho tem que resolver o problema da pessoa, então resolveu o problema é construir uma experiência legal. Então um monte de esforcinho que vem de um monte de área e que faz a coisa dá uma estourada. E é por isso que a gente tem a facilidade agora de você ver a galera que trabalha em Design Thinking de entrar nas empresas, porque muito por causa da IDEO, o vídeo emblemático lá do Deep Dive, ele é um vídeo que ele não está preocupado em mostrar a metodologia do Deep dive, ele está preocupado em mostrar o que é que as empresa que funciona diferente das outras, que é um vídeo muito mais pra quem está estudando teoria da administração inicialmente do que um vídeo pra quem está estudando Design. Porque é uma empresa que não tem hierarquia, não chega nem ser uma adocracia, é um negócio diferente, uma hora você é líder e outra hora você não é líder. Então é o que a gente ver hoje nas empresas te provar tipo a Valve que faz jogos que funciona assim também, a fundação Mozilla também tem uns traços disso, então você tem isso tudo colaborando para pensar em experiência.

Izabela Então tem toda uma conjuntura aí que está fazendo isso acontecer né?

Caio É, eu acho que é um negócio muito mais do contexto que a gente vive hoje, eu sou suspeito para falar por meu background da Administração ne?! Mas se você voltar lá na pirâmide de Maslow, a gente já tem um monte de necessidade resolvida, agora a gente têm umas necessidades que são extra, a gente aqui no Brasil está com um monte de problema de primeiro mundo "ah, o aplicativo não funciona", ao mesmo tempo a gente tem o problema do saneamento básico, mas a gente está vivendo problemas de primeiro mundo, não existe mais primeiro, segundo, terceiro e quinto, é tudo uma coisa só, então é um negócio global, uma conjuntura mesmo que levou a sociedade a priorizar isso (a vivência).

Izabela Até lembrando aqui, tem um movimento interessante também, não sei se está tão relacionado a isso, mas que me fez lembrar que hoje as empresas globais e as consultorias muito focadas em finanças, elas estão fazendo um movimento de comprar agências de Design, agências de Design Thinking, agências de Design de Experiência, então tem esse movimento também, elas ficavam só na parte, vamos chamar de "back-end" e agora atuando mais no "front-end".

Caio O pensamento deixa de ser só em números. E acontece o contrário, a IDEO vira uma empresa de consultoria, que é uma empresa de Design, "vão lá e fazem escova de dente, faz tênis, faz brinquedo". E agora vira uma empresa de consultoria para ajudar outras organizações a melhorar seus processos, porque é o negócio de Design. Então essa coisa de valorização do fazer do Designer, que isso tudo que se for olhar, é o quem faz Design estuda, só que não é o que se pratica, mas é o que se estuda que é observar o cenário, observar as demandas. Por exemplo, foi lá no mestrado em Design que o Daniel foi aplicado no Jacob Nielsen, então é alguém que vem de lá da Engenharia conversa com o Designer, e diz "Olha, tem esse negócio aqui, vamos melhorar, e olha, já é o que a gente trabalha no Design", então no fundo Engenheiros e Designers fazem a mesma coisa, eles resolvem problemas, só que o Engenheiro, está mais focado em uma coisa mais estruturada, o jeito de pensar mais linear e o Designer está mais preocupado com outras coisas. Então se você olhar o Dilbert, ele está mais preocupado de alguma forma, existe ali uma preocupação com a experiência, naquela crítica toda ali, no desenvolvimento dos produtinhos lá, até recomendo assistir o Dilbert no Netflix e lê as coisas. Você vai ver a crítica da organização, tem a crítica daquele jeito quadradinho de pensar e a necessidade de você pensar numa coisa que satisfaça as pessoas e a gente vive de tanta insatisfação que eu acho que essa demanda por satisfação, ela é a nossa busca eterna por felicidade, então se tem uma experiência legal a gente se agarra a ela né?! Então tem isso também né?!

Izabela Também notei que muitas pessoas estão incluindo a nomenclatura de Experiência de Usuário nos seus cargos, como por exemplo, Gestor de Projetos/UX, Programador/UX, Design de Interface/UX, principalmente no Linkedin a gente tem visto esse movimento, o que você acha que está acontecendo?

Caio Esse negócio é muito engraçado, igual o Gestor de Recursos Alimentares que é o carinha do café ou Gestor de Serviços Xerográficos que é o cara do Xerox, é legal e engraçado você ver isso, porque dá um certo valor para a coisa, mas dá uma banalizada, eu não fico preocupado com essa banalização. Porque, o que importa é o resultado, no entanto, tem uma dificuldade de entrega. O cara que coloca que é Desenvolvedor/UX Designer, ele não entra no projeto, dificilmente, não é que ele não entra, não vamos ser categórico. Mas dificilmente entra no projeto lá naquela primeira reunião com o cliente, esse cara que se coloca como Desenvolvedor/UX, ele é o cara que brinca lá com os Bootstrap, brinca lá com os frameworks que proporcionam uma experiência bacana na hora que o cara vai usar, legal! Mas ela não está lá pensando, não é costumeiro a gente ver esse cara saindo a campo para fazer entrevista com o usuário para desenvolver Personas, você não vê muito isso.

Então, vamos pensar igual os Jesuítas, eu não me gosto de colocar junto dos Jesuítas, porque eles não era muito boas pessoas. Mas vamos pensar nos Jesuítas, porque teve um momento que eles encaravam que a finalidade que é o Cristianismo está espalhado, justificavam os meios que eram as atitudes deles, eu acho que vale mais ter essa sementinha de UX plantado em tudo qualquer lugar, muito embora seja feita ali não necessariamente seja UX, deixe que falem, mas é legal ver o resultado, é legal ver por exemplo, estabelecimentos de meta de interação, o cara preocupado com o tempo de resposta de servidor, o cara preocupado com quantas telas o usuário vai ter que passar, isso eu gostaria de ver ou o Gestor de Projetos pegando a Persona e levando a Persona junto no projeto inteiro que muitas vezes a Persona até nasce lá no Planejamento e vai para a criação, mas aí ela fica na criação, ela não vai para o Desenvolvimento de um produto interativo (site ou aplicativo) e isso é muito ruim, porque aquele cara lá que vai definitivamente fazer o que a pessoa vai usar, a pessoa não usa um arquivo do Photoshop, ela usa um aplicativo ou um site.

Então, a Persona não vai para a produção e isso é ruim, a Persona fica no meio do caminho, então o Gestor de Projetos/UX se ele conseguir levar a Persona para o Desenvolvimento e lá no final falar "Vamos fazer um teste, vamos chamar o usuário, vão fazer um teste de Usabilidade desse seu software, desse seu sistema, vamos ver o que está acontecendo e conseguir implementar eventuais mudanças, isso é muito bacana. É engraçado ver gente que faz Direção de Arte/UX, ser contra em fazer teste em protótipo (layout), vamos chamar o usuário então para testar seu Layout? Não, mas o meu layout... Aquela relação de paternidade ainda existe, então o cara não faz UX. Tem um cara que é um Designer muito bom que é um cara que não poupa palavras, o nome dele é Mike Monteiro, o Mike Monteiro tem um negócio que assim, "se seu Designer contestou uma dúvida de um usuário, você deve mandar esse Designer embora sumariamente", ele fala isso.

Então tem uma palestra, dele que está no youtube, falando "se seu Designer faz isso, manda ele embora" que é uma relação de paternidade com a coisa que você faz, que não deve existir. Olha, se eu estou achando um problema na interface que você fez, acabei de falar aonde está o problema, "o problema está na interface e não está em você", "você não é um profissional pior porque tem um problema na interface que você fez, vamos resolver o problema". Então essa resistência aos procedimentos, isso aí é um complicador, por isso que esse nomes /UX, eu acho legal que está aparecendo, mas as práticas não estão acontecendo. Igual tem uns nomes, atendimento não é mais atendimento, ele é Gestor de Contas, "é Atendimento, não tem problema em ser Atendimento não".

Izabela E tem muitos nomes surgindo a maioria em Inglês, por isso também que uma das propostas aqui é sempre tentar traduzir, claro que o Inglês tem um ponto extremamente positivo que é da síntese, que é difícil, mas estou tentando trazer sempre essas nomenclaturas para o Português, até para ser mais fácil de entender, porque como você mesmo está contando, parece que a área de UX ela é ampla e tem várias outras especializações dentro dela e aí essas especializações ela acabam com o nome Inglês também e acaba ficando aquela bagunça na nossa cabeça, né?

Caio O UX ele é bacana que você falou, esse negócio da Síntese do Inglês, ele é muito legal porque ajuda a tirar um pouco com o pré-conceito do termo Usabilidade, você fala Usabilidade, é um negócio que a galera torce o nariz, porque Usabilidade está ligada em procedimento em laboratório, testes em laboratório, procedimentos, para muita gente isso são chatos, eu acho fenomenal, mas eu entendo que sejam chatos para muita gente, então se você tira a carga negativa da Usabilidade e coloca o User Experience fica até mais leve, até mais fácil de entrar na criação da agência.

Izabela Falando sobre as vagas para Experiência do Usuário um ponto que chama atenção é a frequência da oferta com perfil híbrido de Designer de Interfaces/UX, o que você pensa sobre isso? Porque na minha percepção, um profissional é mais focado no visual enquanto o outro é mais focado em atividades que envolvem os usuários no centro do processo. É isso mesmo?

Caio Esse profissional híbrido é uma coisa bem presente na nossa realidade brasileira ou daqui de Belo Horizonte. Porque, a gente ainda não tem aquele cara, ele não consegue ter volume de trabalho suficientes para justificar sua existência dentro de uma estrutura de agência, então ele fica caro. Então aquela função acaba sendo acumulada, e aí é aquela questão negativa de o cara cuidar do visual e de User Experience também, legal seria se ele estivesse incluído no processo todo e se está, aí beleza, não tem problema nenhum! O que acaba acontecendo é que esse cara, como é um negócio novo, você não tem uma graduação em User Experience, aqui em Belo Horizonte a gente teve o primeiro curso do Brasil de Design de Interação, formando um monte de Designer de Experiência, galera muito bacana, que é o da Universidade Católica (PUC-Minas). Então você começa a ter isso e é muito legal você ver gente, tipo a Carine Drummond que fez Design e fez a Pós em Design de Interação, então ela tem a formação de Design de um jeito bem bacana e próprio. Mas o resto da galera, tem muita gente que vem da Publicidade, o próprio Dudu Loureiro que veio de lá dos projetos editoriais, de produção, etc. E aí ele vem e faz Design de Interação e vira um cara do gráfico com interação, essa hibridização, igual eu vim da Publicidade e estudei Administração e aí eu enxergo essa necessidade aqui, eu não sou Diretor de Arte, eu não sei desenhar uma linha reta com régua, mas a gente entende essa importância e seria muito bom se os caras fazem as telas, pensassem nisso daí.

O profissional híbrido tem uma coisa da nossa necessidade do mercado que ainda não tem a grana suficiente para isso e tem o lado bom de trazer experiências diferentes, me lembro que no curso lá, tinha um rapaz que veio da arquitetura, olha que legal ver um arquiteto pensar isso e se preocupar com Usabilidade e os Designers pensando nisso também, você tem uma coisa legal dessa formação diferente, o cara vem com experiências diferentes, então isso é bom essa coisa é um sinal da novidade desse negócio e porque você não tem uma formação específica e o lado bom é que traz um background diferente, uma coisa importante que o próprio Alan Cooper fala e o Jared Spool também fala, o Steve Krug, Nathan Shedroff também fala, que vem gente de diferentes backgrounds, o próprio Norman Neelsen Group, o Jacob Nielsen é Engenheiro, o Donald Norman é Psicólogo, junta essa galera faz uns negócios diferente, o Bruce Tog Tognazzini ele é de uma formação diferente, então é legal a gente ver isso porque as coisas se complementam e essa tensão por pessoas da Psicologia é importante, para você prestar atenção nas particularidades dos indivíduos, não que eu vá resolver todos os problemas do cara com um aplicativo, mas levar em consideração que ele tem um problema no contexto específico que eu preciso falar para ele numa linguagem que ele vai entender, parece óbvio quando a gente fala, mas o Desenvolvedor/UX dificilmente se lembra disso. Porque ele tem lá a formação de Desenvolvimento, ele não tem a formação necessariamente de um cara que está acostumado a prestar atenção nas pessoas, tomara que isso mude.

Izabela Sabendo que hoje as vagas para Experiência do Usuário exigem conhecimentos e habilidades que vão além dos assuntos relacionando a usuário, quanto de programação, interface e interação, as pessoas que querem trabalhar com UX precisam saber?

Caio É importante um Designer saber código? É importante, mas ele deve saber código para substituir o Desenvolvedor? Não! Ele deve saber código para não ser enganado por um Desenvolvedor duvidoso, ele saber identificar um código e saber identificar "Olha, dá para fazer isso, eu sei que dá! Eu não sei fazer, mas eu sei que dá!". Eu me lembro uma época que antes de me especializar e tudo mais, que eu fazia freela para uma agência e o cara da agência veio furibundo que o cliente tinha pedido a ele uma janela redonda, "Eu quero uma janela redonda", "janela redonda não tem jeito de fazer", não é isso. Você deve saber que é possível fazer a coisa. Se você sabe que é possível fazer, você tem aquele conhecimento de dar uma lida, de olhar e entender as vezes até achar um erro, é importante. Da mesma forma que ficou importante para um cara que faz Jornalismo saber mexer no Photoshop, porque não tem mais o cara que vai cuidar da imagem, é ele que vai tirar a foto, é ele que tem que conhecer um pouco de áudio visual porque é ele fazendo periscope numa manifestação, então ele tem que conhecer de tecnologia. Então o Designer ele tem que conhecer de código para não ficar perdido para entender a diferença de Bootstrap e Foundation, esse tipo de coisa, não quer dizer que ele vai ficar o dia inteiro debruçado escrevendo código. Não! E essa coisa inibe muito especialmente o jovem profissional, eu tento falar isso com os meus alunos que é "Se você viu uma descrição de uma vaga que pede Photoshop, Corel, Illustrator e você não tem isso tudo proficiência, não esquenta. Vai lá! Você tem que saber o princípio, você tem que saber Direção de Arte, você não tem que saber Photoshop, você tem que saber equilibrar, cor, você tem que saber isso e lógico o mínimo que é trabalhar com camada, o que é um smart object, isso você tem que saber. Mas isso aí tem nos tutoriais do YouTube, vai lá e corre atrás. Você não tem que ser proficiente em todas as ferramentas porque às vezes o cara nem tem, essas descrições de vagas vem de lugares que chega lá e fala assim "Qual a licença aí da Adobe, o cara não tem a licença e por que você está pedindo um cara que tem esse conhecimento se você não tem nem a licença, você não tem nem o Sketch, você nem usa esse software, como que você está pedindo isso? Como você vai medir isso? Quem é o cara que vai me selecionar e que sabe isso tudo?". Então essa coisa é uma coisa tão falta de noção, que é legal a gente saber os princípios, se você entrega, isso que é importante! É lógico que tem funções que vão demandar, se você vai ser Gestor de Projetos e a empresa trabalha na onda do PMI, se você não souber Project, você está na água! Então nem vai lá. Agora se você é Gestor de Projetos e se a empresa trabalha de outra forma, procure saber qual a metodologia e se enquadre ali. Mesma coisa com Direção de Arte, se você gosta do Illustrator e a galera está pedindo outra coisa, mas você consegue trabalhar nessa outra coisa, vai! Entendeu?! E mostra o seu trabalho, porque eu acho que assim vai ajudar a educar esses caras que criam essas vagas absurdas, a vaga que quer o cara saiba PHP, MySQL, CSS, Javascript, Photoshop e AdWords. Você... Ah esse cara não existe e você quer pagar R$ 800,00 para esse cara.

Izabela E pra quem quer trabalhar com experiência do usuário o que é o básico que ele precisa saber?

Caio Olha, tem que saber de pesquisa com o usuário, tem que saber de pesquisa com o usuário. E tem que saber dos métodos e técnicas que estão envolvidos aí. Então não existe necessariamente uma ferramenta que seja única, um software para ele saber, você tem um monte de software. É muito legal você saber fazer teste de usabilidade, e aí para fazer teste de usabilidade você tem um monte de software que pode te auxiliar. É, dificilmente você vai ver uma empresa aqui em Minas Gerais que tem o Morae aí, que vai ajudar a fazer aquele esquema de sincronização de todas as trilhas de vídeo e tal, então se souber Morae, beleza, você sabe Morae, mas não tem ninguém aqui que demanda o Morae. Então a galera costuma se focar muito no Axure pra fazer wireframe. Olha, durante os meus 10 anos de usuário Linux, eu nunca usei o Axure e agora também não uso o Axure. Eu faço o wireframe onde? Lápis e papel. E na hora de passar para o computador? Eu usava o Gimp. Vai lá no Gimp e boas, né? Tem gente que faz wireframe no PowerPoint, gente. Isso é irrelevante. A galera gosta, sabe? Se a galera gosta, quer um wireframe navegável, por exemplo, eu já dei consultoria que o cliente queria o wireframe navegável. E aí esperando chegar um produtinho do Axure. Não, fiz no Pencil. O Pencil faz wireframe navegável. E eu conheci HTML. Então o que precisava eu ia lá e fazia na mão. Então a ferramenta eu acho que é o de menos. O mais importante são os procedimentos. Então é ter conhecimento dos procedimentos, como é uma entrevista para eu construir uma persona, o que eu devo tomar nota. Aí, olha só, como é o negócio da área híbrida. Você vai ver livros de métodos qualitativos de obtenção de dados. Que aí é como eu monto um roteiro de entrevista para que eu não direcione o cara pra ele responder o que eu quero. Porque se eu direciono o cara pra ele responder o que eu quero, eu não vou estar resolvendo o problema do cara, eu vou estar resolvendo meu problema de ego dele responder o que eu acho o que ele tem que responder. Entendeu? Então eu vou aprender a elaborar roteiro de entrevista, aprender a elaborar questionário, que é um negócio complicado. Eu vejo um monte de gente que tem UX no título colocando questionário e no questionário perguntando: "Você gostaria disso?". Não, isso você não pergunta, cara. Você não está fazendo pesquisa com o usuário, se está fazendo isso.

Izabela Então é entender de metodologia de pesquisa com o usuário, de entendimento do usuário mesmo né, criação de personas... Arquitetura de informação é importante saber?

Caio Muito! Prototipação, né?... Saber fazer um protótipo de baixa fidelidade, o que é um protótipo de baixa fidelidade. Saber dos métodos e técnicas de validação desse protótipo. Que aí se tem grana, você pode fazer validação com o usuário. Se você não tem grana e não tem tempo você pode fazer validação com especialista... Não ter preguiça. Eu acho que uma coisa muito importante. A gente não tem jeito. Nós somos humanos, nós temos preconceito pra chuchu. Mas, a gente tem que tentar diminuir os preconceitos. Então se você não gosta de métodos... Eu sou uma cara que tinha uma preguiça com métodos qualitativos. Mas eu aprendi que eles são muito importantes. Então você tentar romper seus preconceitos, né? Isso é muito importante porque o que leva a necessidade de você trabalhar experiência é você entender que você que faz o produto é diferente do cara que vai usar o produto. Nem todo mundo é o Bruce Tog Tognazzini que faz o produto pra alguém que é igualzinho a ele usar. 99% dos casos são: eu estou fazendo um produto para alguém que eu nem sei quem é direito. Então é bom que eu conheça essa pessoa, desenvolva empatia por essa pessoa, e que eu aprenda a gostar daquele negócio, se não eu vou fazer uma coisa pra mim, e aí ele não vai usar. E aí de que adiantou? Alguém jogou dinheiro fora nisso.

Izabela O que você acha que seria mais importante das pessoas que querem começar a trabalhar com Experiência do Usuário que elas estejam atentas? Um tipo de olhar que seja legal desenvolver?

Caio Eu acho que é uma lição das que eu mais... A mais forte que eu aprendi na escola de publicidade que foi: preste atenção em tudo. Preste atenção em tudo. Ali naquele conceito lá foi de referência, de você pegar referência. Ah, uma referência pode estar ali. Mas o "preste atenção em tudo" é: você está lá no caixa de supermercado. Olha como é que a moça opera o caixa de supermercado. Você está andando pela rua, olha como é que o cara se comporta no ponto de ônibus. Porque no momento que você que tiver que fazer um quiosque do ponto de ônibus, você pensa: "aquilo lá quem tem que fazer é um arquiteto", mas a experiência do usuário no transporte coletivo não passa pelo uso do ponto do ônibus? Vamos olhar o ponto de ônibus? Vamos ver como as pessoas usam o ponto de ônibus? Então é olhar como as pessoas estão usando as coisas. Prestar atenção nas gambiarras que as pessoas fazem. As gambiarras são excelentes. Uma coisa que é muito legal de um profissional de experiência do usuário é de ir a campo ver como que o usuário usa os sistemas. Que é diferente de você trazer o usuário para o laboratório, que é uma coisa da usabilidade. Ir a campo você vai olhar o cara, você vai ver se tem um Post-it colado no cantinho do monitor com uma dica de que na tela tal ele tem que apertar a tecla tal, né? É o prestar atenção, por exemplo, no teclado. Quando eu vou pegar avião, eu gosto de olhar os teclados que as mocinhas do balcão estão usando e você vai ver as teclas mais manchadas de vermelho daquele carbono da passagem da coisa, são as teclas de função do sistema lá do 55:04 (???) que eles usam. Aí fico olhando, falo: "ah, como elas usam?", "como a coisa acontece?", "que tipo de gambiarra que ela colocou debaixo do teclado para ela poder operar o teclado em pé?". Esse tipo de coisa. É prestar atenção nisso, sabe? Na gambiarrinha. Em como que a pessoa usa o negócio, um penduricalho de celular adaptado para o celular não cair do bolso, sabe? É esse tipo de coisa que a gente tem que prestar atenção.

Izabela Você já deu um tanto de dica, eu vou procurar todas as dicas que você deu, vou postar junto com o podcast, os vídeos, as referências... Mas eu queria que a gente falasse um pouquinho mais dessas dicas, né? Para quem está procurando por fontes de informação para começar, pode ser blog, podcast, evento, conferência no Brasil, livro... E falando de livro, vamos começar falando do seu livro "Vamos Fazer Design de Interação?". Eu queria que você contasse um pouquinho. Eu tive contato com um projeto, eu vi que tem um livro que pode ser feito download, tem uma série de vídeos, eu acho que pode ser bacana para quem está querendo um primeiro contato...

Caio É... Aquele livro é um resumo do processo que a gente passa quando a gente vai fazer design de interação, né? De todos os procedimentozinhos aí. Não necessariamente na ordem que está no livro, mas ali tem os procedimentos. E ele é bem basiquinho, bem bacana. Eu não gosto muito e falar das coisas que eu faço não. Vão lá e olhem e tal, e depois vocês veem.

Deve ter um monte de erro de português lá, por favor me indiquem se tiver erro de português lá. É... Tem um monte de publicação que ajuda isso. O livro é uma iniciativa legal para disseminar o design de interação. E tentar deixar ele menos "sisudo". Porque quando a gente olha, tenta colocar design de interação, pensar na experiência, e tal, os projetos ficam mais longos, então o cronograma é afetado, aí o gestor do projeto não gosta. Os procedimentos custam dinheiro, eles não são de graça... Então quem está pagando não gosta, né? Então é uma maneira de tentar desmistificar isso, de tentar deixar a coisa menos chata. E aí tem um monte de outros leituras que eu acho que são muito bacanas. Tem uma conferência que ela é anual, que se chama... (é... Aqui que ela acontece na América Latina toda) que é o Interaction South America. Teve lá em 2011/2012, foi em Belo Horizonte, muito bacana. E costumam ter, acho que o último que teve, no final do ano passado, de 2015, foi na Argentina. Acho que foi Córdoba, Mendoza, sei lá, foi na Argentina. E costuma ter os vídeos das palestras.

Izabela Legal!

Caio São vídeos bacanas, você pode dar uma procurada e você acha no You Tube. Os eventos do An Event Apart são bacanas, ajudam também. E algumas leituras. O "Designing Interactions" do Bill Moggridge, o livro do Jesse James Garrett, de "Elementos da Experiência do Usuário" é um livro bacana. Os livros do Jakob Nielsen... A gente tem que não ter preconceito com o Jakob Nielsen, então lê tudo do Jakob Nielsen. Jakob Nielsen escreveu alguma coisa no papel higiênico enquanto ele estava no banheiro. Lê! Porque o cara é muito bom. Os livros do Allan Cooper, o "About Face", é um livro imprescindível para ler. O "Running The Unsilent" é um livro bacana... Don Norman é outro também. Se ele sair com o Justin Bieber e pichar o muro, você vai lá e lê o que ele escreveu no muro porque o Don Norman é um cara legal. Então o "Design do dia-a-dia", o "Design Emocional" ... Para você ter uma ideia, o livro "Design Emocional" tem uma relação com semiótica muito bacana. Depois de, sei lá, 10 anos de formado, que eu fui ler o "Design Emocional", caiu um monte de ficha de semiótica na cabeça de quando eu estudei lá em [1996]. Então foi muito bacana. Então o "Design no dia-a-dia". Se você quer saber de procedimentos, aí o "Handbook of Usability Testing", do Jeffrey Rubin é um livro bacana, muito bom. Mas é um livro mais assim, de como fazer um teste, como recrutar usuário, como "não sei o que" ...Esse é um livro bem "vamos fazer". E os livros do Steve Krug. O Steve Krug é um cara legal porque ele escreve para literatura quase de aeroporto. Você lê o livro dele rapidinho. Então é um livro para convencer.

Izabela Eu li um agora em uma semana, aquele livro "Não Me Faça Pensar".

Caio Um excelente livro.

Izabela Teve atualização dele, né? E aí foi esse que eu tive contato, eu achei bem interessante.

Caio Esse livro é ótimo e tem um outro dele que é o "Rocket Surgery Made Easy". Muito bom também. Eu recomendo um site que é o User Experience Engineering. Não, User Interface Engineering, UIE. Que é do Jared Spool. O Jared Spool tem um livro de usabilidade legal e lá no UIE você tem um podcast bacana.

Izabela Legal!

Caio Você tem umas conferências online bacana também. O material do Jason Fried lá, o blog o Signal v. Noise que é bacana… É... o que mais, hein? Tem umas coisas, ah, os livros do Nathan Shedroff, de design de experiência. E uma coisa que é muito legal, aí já é uma literatura complementar, mas que é o livro do Mihalyi Csikszentmihalyi, que é psicólogo. Ele tem dois livros. Um livro dele é "O Valor das Coisas" que é o tanto que a gente se apega a bens materiais e que a gente cria valores para essas coisas, relacionamento dessas coisas, é uma livro muito bacana. E o outro é o "Flow", que fala dessa teoria do fluxo, que é muito importante para gente que está fazendo coisas interativas e pensando em experiências. Então tem um monte de leitura legal, e infelizmente a maior parte delas é em inglês, então uma competência do profissional de User Experience é saber inglês. Tem muita palestra que você vai ver, muito material sobre design de experiência em inglês. A gente produz muito pouco em português brasileiro. Essa é até uma das motivações que eu fiz lá o livrinho, que é para deixar a coisa mais light também. Tem o livro "Design de Interação" da Jennifer Preece que é bacana, mas até onde eu sei ele já está na quarta edição, mas só a primeira edição foi traduzida para o português. Então você vai ter que ler em inglês mesmo. Pode ser que tenha um monte de coisa atualizada aí, mas esses livros acho que já dá para dar uma boa...

Izabela Nossa, bastante! Dá para aprofundar bem. E para quem tem interesse em pesquisas acadêmicas, como se aproximar dessa área no Brasil?

Caio Olha, tem, aqui em Belo Horizonte, tem a Raquel Prates que ela é uma profissional muito bacana, professora da Universidade Federal, ela é muito legal. Ela tem um capítulo de um livro muito bom. Aí ó, tem mais referências. O livro do Walter Cybis que é brasileiro mas está lá radicado no Canadá. É um livro, nossa, muito bom. É tipo, muito bom! O material da Raquel Prates... Tem, ah, uma referência que me passou batido, foi de um podcast chamado 99% Invisible. É um podcast de design, mas que ele é fabuloso, ele é maravilhoso. E até em termos de podcast é uma produção... Eu gostaria que tudo que eu fizesse fosse igual ao que ele faz, mas enfim... Então aqui você tem lá a Raquel Prates, que ela trabalha, se não me engano, ela está no TCC da UFMG. É... Você tem algumas pessoas trabalhando isso lá na Universidade Católica. Tem eu, tem o professor Kutova, tem o professor Hugo, tem a professora Cristiane Nobre... Esses que têm alguma aproximação lá com o mestrado em Informática. Então tem isso lá no mestrado em Informática. Você perceba que está tudo bem ligado ao mestrado aos dois programas de mestrado e doutorado em Informática. É... Mas fora disso, deixa eu ver aqui. Você tem no Nordeste, se não me engano, tem uma galera fazendo um mestrado disso, e tem que olhar direitinho onde é que é, se é na Universidade Federal da Paraíba, ou se é no Rio Grande do Norte... Tem alguma coisa assim. As próprias coisas ligadas ao César lá no Recife, Pernambuco.

Izabela O Sílvio Meira, não é?

Caio Isso! É.. Tem uma galera no mestrado de Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina tem alguma coisa, que dá para fazer uma pega... Você está começando a ver isso em algumas universidades de São Paulo, mas fora da comunicação, fica mais difícil porque o métier de pesquisa da comunicação não é bem esse. Aí você vai achar isso onde? Na Belas Artes, por incrível que pareça, tem lá no Mestrado em Belas Artes,um ex aluno que é o Koji Pereira que ele fez o mestrado dele lá e ele encontrou no guarda-chuva lá da Belas Artes o acolhimento do professor Carlos Falci lá na UFMG que é muito bacana e que também tem um olhar sobre isso. Ele não trabalha pesquisa e experiência, mas pesquisa e experiência cabe dentro das coisas que ele faz, sabe, de algumas coisas que ele faz. Então tem uma galera trabalhando isso.

Izabela E tem alguma fonte de informação que, por exemplo, que eu vou conseguir achar essas teses, essas dissertações para aquelas pessoas que estão tateando ainda e quer ter contato com tipo de escrita, tipo de raciocínio... Esse contato e até criar mais o repertório, né? Para saber se quer ir por aí, ou se quer ir para uma pós mais lato sensu...

Caio Aham. Tem uns camaradas de São Paulo, tem um cara que eu gosto muito dele que é o Robson Santos. O Robson Santos é muito ativo no Twitter, no Facebook e tal e ele é doutor em Design. Então a galera da ESDI, a Escola Superior de Design Industrial (eu não sei o que quer dizer a ESDI) lá do Rio de Janeiro, tem isso. Tem a Amyris que também cuida disso.

Izabela Amyris Fernandez, né?

Caio Isso! Que agora não sei se ela trabalha no Buscapé agora... Onde é que ela está trabalhando. O Robson Santos e a Amyris Fernandez são pessoas que fizeram o stricto sensu e eles podem ser hubs disso. Tinha umas iniciativas, tinha um blog de arquitetura de informação, uma coisa assim, que costumava colocar os links e tal, então é dar uma buscada nisso também. Mas a PUC do Rio de Janeiro tinha uma coisa voltada nese sentido, né? E a UERJ tinha uma coisa nisso também. Mas eu sei que a ESDI tem. A ESDI tem.

Izabela Bacana. O que você acha que as pessoas que contratam levam em conta para avaliar um profissional que está começando? Ter portfólio é fundamental?

Caio Ter portfólio é fundamental. Ter portfólio é o que há. Por que? Você vai ser contratado não pelo seu título. Para você ver, eu sou doutor em Administração. Onde é que está a validação acadêmica do cara trabalhando com isso? Então tem que coordenar o curso, montar o curso, eu pensar nas disciplinas, eu dar aula do negócio. Onde é que eu aprendi? Eu aprendi batendo cabeça. Eu aprendi lendo, nesta época, em 2001 em que ninguém nem falava do negócio eu tava lá batendo cabeça e conversando com pessoas e vendo como que é negócio e tal... Então no fim das contas você é o que você é capaz de fazer. Então tenha um portfólio. Então é aquele negócio. Você tem o caso do Vítor Lourenço que é um cara daqui do Brasil de São Paulo que estava fazendo lá graduação dele na ESPM e aí ele fez um mashup de Twitter. E o mashup dele ele colocou no ar e a galera do Twitter gostou e falou: "Ou, você não quer vir trabalhar aqui não?". E o cara no meio da graduação dele largou o curso e foi trabalhar no Twitter. Então e hoje ele cuida agora, não sei se mais no Twitter, mas ele é um User Experience Designer. Então é fazer. É "meter a mão na massa". Então por isso que é legal um cara que tem essa coisa de Designer de Interface/UX dele ter um portfólio. Ter lá um perfilzinho no Deviantart. Tem que é ter lá. Ou no Dribbble. Um cara que é Desenvolvedor/UX, cadê seu perfil no GitHub? Cadê os seus projetos? Cara que é front-end, cadê suas coisas lá no GitHub? Então é o que você é capaz de fazer. E uma coisa muito legal é você juntar com pessoas que complementam sua competência, sabe? E fazer coisas. Então, "Ah, mas é muito difícil, Caio, montar portfólio nisso.". Não é. Faz avaliação de usabilidade, faz um relatório. Seu portfólio é um relatório. Uma proposta nova de interface... Você não vê isso o tempo todo? Tem um monte de blog de design que fica postando insight. Como é que poderia ser um telefone com tela flexível? E é o cara lá que fez a coisa. Então faz também. Faça isso. Pense como é que a coisa vai funcionar.

Izabela Bacana.

Caio Eu acho que isso aí constrói seu portfólio.

Izabela E para fechar: Como conseguir a primeira experiência?

Caio Faz de graça. Faz de graça. Ou faz para você mesmo, sabe? Uma coisa que pode ser muito bacana é "Ah, eu preciso aprender esse processo.'. Beleza, pensa em um produto para você. Pensou nesse produto que pode ser, sei lá, eu acho que o melhor exercício é a pessoa montar um site para ela mesma. Monta um blog, monta uma coisa que tem um assunto que você gosta muito e faz os procedimentos para esse produto. Vai pesquisar persona. Persona está um assunto tão na moda que até a galera que fica falando do marketing de conteúdo, de inbound, não sei o que, está falando de persona, jornada do cliente... Que é fluxo de navegação. Então faz isso. Pesquisa o usuário do seu blog. Quem que vai ser, faz as personas, aí faz wireframe, guarda essa documentação. Faz layout, testa com esse cara. Vê se tem algum erro... "Ah, como é que eu vou testar layout de blog?". É super simples, você tem seção, tem tarefa para o cara fazer, você tem coisa que você pensou pro cara fazer comentário e tudo mais? Implementa isso. Aplica isso. Olha a necessidade de você conhecer um pouquinho de código. Mexe lá num tema de WordPress e deixa do jeito que você imagina e documenta isso. Documenta esse processo. Faz acompanhamento, da mesma forma que alguém vai construir uma expertise em direção de arte. Como é que é? Vai desenhando. Vai fazendo peça fantasma "a torto e a direito" para você exercitar o seu ofício. E aí você tem um caso, porque é igual a um portfólio de alguém de planejamento. Ele é difícil de montar, né, é difícil de você materializar. Então você tem que mostrar os casos. Olha, eu estive envolvido nisso. Eu fiz isso, isso e aquilo outro. Olha aqui a documentação. Olha aqui o que eu descobri. E vai ser muito legal para alguém te contratar ver onde você errou e onde você consertou. Porque é muito fácil você mostrar só o produtinho final pronto ali. Mas qual foi o caminho para você chegar naquele produto pronto? É aquilo que vai ser valorizado quando alguém for te contratar que quer que você faça nos próximos projetos. Que aí vai ter um erro, eu quero que você ache o erro, que você indique onde que está o problema, que você indique o caminho a seguir. Então é isso, faz. Aí o fazer de graça é aquele negócio. "Ah, eu não tenho uma ideia, Caio, de um blog, de um site, não sei o que". Pega uma empresa pequena, que não tem grana. Vai lá e faz para ele. Pega uma entidade sem fins lucrativos. Essa galera nunca... Olha uma entidade assistencial. Essa galera nunca tem grana. Vai lá e faz um negócio de graça para eles. Faz um troço que vai ficar assim, mega bacana que você vai depois falar: "Olha, eu ajudei essa entidade a aumentar o número de doadores. Eu ajudei a essa entidade a ter uma presença na web legal. Eu ajudei isso, isso e aquilo outro porque eu fiz essas pesquisas, eu descobri tal coisa...". E quando você menos espera, você começa a ter autoridade no assunto porque você vivenciou os processos.

Izabela Está vivendo né?

Caio É! E é isso que te dá autoridade. Sabe? Você falar com todo certeza "Isso não funciona." "Por que?" "Porque eu testei. Eu sei que isso não funciona. Eu já testei e não funciona." Sabe? Isso é bacana. Então desenvolva isso.

Izabela É isso. Muito obrigada. O primeiro episódio do Movimento UX.

Caio Eu que agradeço e foi uma honra aí. Estamos aí para o que precisar. Nossa, me senti muito feliz de estar participando daqui! E contem sempre comigo.

Izabela Muito obrigada, Caio!

Caio Valeu!


Izabela Bom chegamos ao fim do primeiro episódio e espero que você tenha gostado. No próximo programa, que vai ser lançado no dia 29 de fevereiro, a gente vai conversar com Rodrigo Medeiros. Obrigada e até o próximo papo!


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